Pensamento

"A poesia não é mais do que a memória de nossa pureza original". (Tristão de Ataíde)

Perfil do ator e poeta Natan de Alencar

               
                Natanael Gomes de Alencar nasceu em Cubatão – SP, na data de 24/9/1961, filho de Israel Gomes de Alencar e Ambrosina Castelhano de Alencar, casado com Lúcia, pai de duas filhas e dono de uma cadela da raça vira. Quando tinha sete, oito anos, costumava garatujar com seu amigo Roberto Páscoa desenhos e palavras ligadas ao universo da história em quadrinhos. Aos dez anos, seu pai lhe apresentou ao cordel, quando leu obras fundamentais nessa área da literatura, entre elas Pavão Misterioso e Lampião no Paraíso. Só João Acaba Mundo e a Serpente Negra leu várias vezes, ele se imaginando o João, é claro.

                                             Ele diz que houve uma regressão criativa quando começou aos treze anos a fazer poemas para datas cívicas. Aos quinze, no Baú do Avô, em Registro-SP, descobriu a grande pérola de Cervantes: Dom Quixote de La Mancha (e seu fiel escudeiro Sancho Pança). Aos 21 anos, na Faculdade de Economia, particularmente em sua Biblioteca, conheceu a poesia de Guilherme de Almeida e outros. Conseguiu também achar poesia em Galbraith, Keynes, Marx e Eugênio Gudin.
                                           Em 1988, iniciou suas atividades como ator de teatro, atividade que exerce até o presente. E, nesse mesmo ano, ingressou na Prefeitura Municipal de Cubatão. Na década de 90, conheceu e colaborou com a Mirante – revista literária santista da qual ainda faz parte - e com a Revista Pégaso (também santista). Ainda nessa década, foi membro da Academia Petropolitana de Poesia Raul de Leôni, Petrópolis –RJ, apresentado pela poeta Tereza Cristina Tesser. Participou do Mapa Cultural Paulista, de alguns concursos regionais, e hoje faz parte da Casa do Poeta da Sociedade Amigos da Biblioteca Municipal de Cubatão.

Poemas:

ÚLTIMO FIO DE ILAIR (heroína da enxurrada do RJ)




Por estar só,
Chorou da amurada e foi acolhida
Sob as asas de Daniel Gilberto Juan,
Um anjo de três nomes e um só coração

Escalou a parede
Como Deusa 53.

Escolheu seu diálogo na enxurrada
E pulou à busca da sobrevivência.
Era o seu objetivo no tempo/espaço
Tecer a vida com o último fio de esperança.
Só os cães foram servidos como oferendas às correntes


PARA A PLANTAÇÃO DOS DENTES


Quando te amarrou na cama
O amado em febre,
E percorreu-te as vias fêmeas
Era o amor, era o desejo, embora
Entre esses dois gêmeos
Muita vez irrompe a flora
Indefinível como prêmio.
Não te queria o amor.
Nem era dele
Ter-te nas unhas.
Mas viu-te em tudo,
Arrebatado.
Lambeu as curvas do perfil,
Cavando, vil,
O suficiente
Para a plantação dos dentes.
Assim os dedos
Do amado em febre
Traçaram versos.
Com alma em chamas
Fez do papel papiro,
Úmida cama de vampiro.

AO SUL DA AMADA


Sou navegante antigo,
Meu mapa só resvala
Ao sul, púbis da amada,
Onde desejos calam
No início e fim do leito,
Embebedando a carne
No vinho ruivo da alma.

Rolando aqui e lá.
No aqui e ali, brincar.
Brincando ao sul, singrar.
Singrando o mar, sondar.
Sondando o amor, falar,
Calando o eterno anseio
De como um deus amar.

UMA NAÇÃO MAIS LINDA


Quero um país melhor
com violências findas
sem descuido nas encostas
sem tolas imagens postas
em que a vista da janela
não seja posta em berlinda
por ousar brecar os olhos

Uma nação mais linda
em que mares sejam peixes
e peixes se façam mares
em que se brinde o povão
com adequadas imagens
sem ter os sonhos roubados
um país em que as gentes
não sejam mais condenadas
por querer vida decente